Uma visita ao vivo e em preto e branco.

por Eliana Ovalle

Ontem fui com minhas amigas Jane Crivella e Roberta Gripp  entregar doações da ONG Mulher que Faz, no morro do Turano. Foi num colégio estadual Herbert de Souza que temporariamente cancelou as aulas para abrigar 350 pessoas. Fomos recebidas pelo administrador. Ele nos explicou que as doações iam direto para o terceiro andar onde passariam por uma triagem. Lá chegamos ao terceiro andar e três senhoras trabalhavam separando as peças em caixas e sacos plásticos etiquetados.  No chão uma montanha de roupas amassadas. E com amor as senhoras dobravam, separavam e arrumavam. Uma delas comentou que no dia anterior  estava tudo arrumadinho, mas que de noite os desabrigados invadiram o local para pegar roupas, sapatos  e bagunçaram tudo como as pessoas que abrem os sacos de lixo na rua.
Era exatamente essa a impressão.

Fomos então aos locais onde os desabrigados se encontravam. Dentro das salas de aula, acampados. Colchonetes ao chão alguns com lençol. Sacos plásticos em volta. A maioria das pessoas estava sentada ou deitada. Profundamente deprimidos com o rosto assustado. Como que dormindo acordado. Vivendo um pesadelo.

Algumas moças sorriam de volta. Uma pediu oração.

Conversamos com uma senhora colostomizada que nos contou seu drama. Que a sua casa era toda de grades, mas que num local da casa onde ela orava havia um buraco e foi por lá que ela e sua sobrinha conseguiram escapar na hora da tragédia.

Outra moça, a que pediu oração dividia o colchonete com a sua filha, uma moça de mais ou menos 18 anos, deficiente física e especial.

Uma coisa inegável é a solidariedade povo brasileiro. Obrigada também a todas as colaboradoras que ajudaram E fazer a nossa parte dá um sentimento de missão cumprida. Mas será que só isso basta?

Como eu gostaria que todas aquelas pessoas que vimos pudessem ter uma chance. A vida delas já devia sem dúvida ser muito difícil, imagina agora.




*Sylvia Crivella, Eliana Ovalle e Roberta Gripp levaram parte das doações para os desabrigados no Morro do Turano. Eliana, que é vice-presidente da Ong Mulher Que Faz, assina este artigo endossado por Sylvia, presidente da Ong Mulher Que Faz.

Deixe um comentário